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Gioacchino Rossini

Autor de óperas conquista fama e fortuna

Colaboração para a Folha Online

Gioacchino Antonio Rossini nasceu em 1792 na cidade italiana de Pesaro. Para escapar da pobreza, seu pai cogitou castrá-lo. Com isso, a voz do garoto não mudaria durante a adolescência e ele poderia continuar como cantor no coro da igreja. A mãe, porém, foi contra.

O próprio Rossini gostava de contar essa história aos amigos, explicando como escapara de se tornar um castrati. "Quando criança, eu tinha uma bela voz", recordava ele. "Meus pais me faziam cantar no coro da igreja. Foi quando um tio, barbeiro de profissão, convenceu meu pai da oportunidade de impedir a mudança de minha voz, pois assim me tornaria uma fonte de renda segura para toda a família", contava.

Se Rossini quase se tornara um virtuose do "bel canto" pelas mãos do próprio tio, seria por meio de outro barbeiro que a posteridade se lembraria dele. Sua ópera O barbeiro de Sevilha é uma das mais conhecidas e mais executadas de todos os tempos. No entanto, ela é apenas uma das mais de trinta óperas compostas por Rossini ao longo da vida. De todas elas, apenas Guilherme Tell alcançou popularidade parecida.

Rossini compôs a primeira ópera aos 18 anos. Seu grande sucesso de público veio logo, aos 21 anos, com a montagem, em Veneza, de Tancredo, uma das óperas "sérias" deste que foi um mestre das composições cômicas. Ao lado de O barbeiro de Sevilha, obras como Cenerentola e La gazza ladra, que também exibem a inegável verve e o domínio de Rossini no gênero, acabaram ofuscando a parte mais sóbria de seu trabalho. As óperas Otello e Semiramide, por exemplo, hoje estão praticamente esquecidas.

Em 1824, o compositor visitou Beethoven em Viena e este recomendou-lhe que esquecesse o repertório mais sóbrio e escrevesse outras óperas parecidas com o então já célebre O barbeiro de Sevilha. "Para a ópera séria, seu talento não presta", opinou Beethoven.

Ao contrário da maioria dos compositores românticos, Rossini conseguiu ganhar um bom dinheiro com sua música. Com freqüência, escrevia óperas sob encomenda. Entre outros contratos, trabalhou para o Scala de Milão, para a Ópera Italiana, para a Ópera de Viena e a Ópera de Nápoles. Nesse período, em oito anos de trabalho, chegou a compor nada menos de vinte obras líricas. Dizia-se, na época, que existia uma "febre rossiniana" na Europa. O escritor Stendhal comparava-o a Napoleão. Um conquistara a Europa com canhões; o outro, com a música.

Aos 31 anos, Rossini mudou-se para a França, onde assinou um polpudo contrato com a Academia de Música de Paris, sob patrocínio do próprio rei, que o nomeou "primeiro compositor real" e "inspetor geral de canto". Repentinamente, aos 37 anos, anunciou que se aposentaria e deixou de compor. Era julho de 1830. Uma revolução fazia Rossini retornar para a Itália, abandonando Paris e a música.

Em 1845, ficou viúvo. Um ano após a morte da soprano Isabella Colbran, sua primeira esposa, Rossini casou-se com Olympe Pélissier, que organizaria, na casa do marido (já de volta a Paris), célebres reuniões com a elite cultural e intelectual francesa. Rossini e Olympe ficariam juntos até a morte. Perto do final da vida, Rossini voltaria a compor algumas peças para voz e piano. Mas, a essa altura, sua contribuição para a música já estava devidamente consolidada.

Viveu os últimos 40 anos de vida quase ociosamente. Como um príncipe, desfrutava da fortuna que amealhara no período de maior atividade. Nessa época, tornariam-se célebres os banquetes que oferecia aos amigos, sempre regados a bom champanhe, pratos sofisticados e frases espirituosas, outra das marcas registradas de Rossini.

Quando morreu, em 13 de novembro de 1868, deixou uma fortuna em seu testamento. Como não tivera filhos, grande parte do dinheiro foi destinada, por vontade expressa dele, à fundação da Villa Rossini, instituição beneficente que passou a abrigar músicos aposentados e sem recursos financeiros. A herança também serviu para a criação da Fundação Rossini, em Pesaro, sua cidade natal, entidade que até hoje detém a guarda de seu acervo musical. Por fim, no testamento, Rossini instituiu um prêmio anual, destinado a incentivar a carreira de compositores na França.

     
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