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Ludwig van Beethoven

Fúria ataca "Napoleão da música"

Colaboração para a Folha Online

"Atingi tal grau de perfeição que me encontro acima de qualquer crítica", escreveu certa vez Ludwig van Beethoven. Difícil discordar. Afinal, é consenso dizer que Beethoven está para o mundo da música assim como Shakespeare está para o da literatura e Michelangelo para o das artes. Mas, além da confissão de uma justificada auto-suficiência de seu autor, a frase também expressa uma das características mais marcantes da personalidade do compositor alemão, que definia a si próprio, sem laivos de falsa modéstia, como o "Napoleão da música": Beethoven era dono de um comportamento intempestivo e gênio forte que por vezes provocava acessos de violência física.

Conta-se por exemplo que, um dia, em 1806, hospedado no castelo do príncipe Lichnowsky, um antigo protetor a quem dedicara sua Sinfonia nº 2, Beethoven recebeu o pedido de tocar para alguns oficiais de Napoleão. Em meio a um de seus já conhecidos surtos de ira, o compositor recusou-se terminantemente a sentar ao piano. Como resposta, o anfitrião, presume-se que em tom de brincadeira, ameaçou prendê-lo. Beethoven levou a advertência a sério. Voltou imediatamente para Viena, e, chegando lá, espatifou um busto de Lichnowsky.

Esse e outros episódios pitorescos da vida de Beethoven sempre foram um prato cheio para os muitos autores que se debruçaram sobre sua biografia. Filho de um pai alcoólatra, que o obrigava a levantar de madrugada da cama para tocar piano, o pequeno Beethoven teria motivos suficientes para ter evitado o caminho de uma carreira musical. O pai, Johann, músico medíocre e frustrado, sempre batia nele entre uma bebedeira e outra, forçando-o a estudar música durante horas seguidas -- queria vê-lo transformado em um novo Mozart.

Aos 13 anos, Beethoven viu-se na obrigação de abandonar a escola para sustentar a casa, uma vez que seu pai decidira trocar de vez o trabalho pelo álcool. O garoto arranjou vários empregos, todos ligados à música, desde organista de teatro a professor. Até que caiu nas graças de um nobre, o conde Ferdinand Ernst von Waldstein, que resolveu investir na carreira daquele jovem talentoso e de modos rudes, enviando-o para a civilizada Viena, primeiro como aluno de Mozart e, depois, de Haydn. Mozart não se impressionou muito com os dons do novo pupilo. Já Haydn, afetuoso mas pouco rigoroso, ganhou de Beethoven o apelido de "Papai Haydn" e teve grande influência sobre o compositor.

Mesmo com seu estilo pouco cortês, Beethoven e seu piano começavam a circular com desenvoltura pelos salões aristocráticos de Viena quando, em 1796, o compositor começou a sentir os primeiros sintomas de uma surdez progressiva. Para qualquer músico, mesmo para Beethoven, um princípio de surdez pareceria um obstáculo intransponível. "Era-me impossível dizer às pessoas: 'fale mais alto, grite, porque sou surdo'. Como eu podia confessar uma deficiência do sentido que em mim deveria ser mais perfeito que nos outros, um sentido que eu antes possuía na mais alta perfeição?", escreveu numa carta de despedida aos irmãos na qual sugeria que, desesperançoso da vida, iria cometer suicídio.

Contudo, em vez de se matar, Beethoven preferiu --como ele próprio observou-- "agarrar o destino pela garganta". Começava ali o que os biógrafos consideram a segunda das três fases da vida e da produção de Beethoven. Mesmo com o agravamento da doença, ele compõe algumas de suas mais belas obras, como a Sinfonia nº 3 ("Eroica") e a Sinfonia nº 6 ("Pastoral"), esta última um de seus trabalhos mais populares até hoje. "Parecia-me impossível deixar o mundo antes de ter dado a ele tudo o que ainda germinava em mim", explicou.

Pouco antes, já havia composto a bela Sonata ao luar, dedicada à charmosa Giulietta Guicciardi, de apenas 17 anos, uma das muitas paixões do compositor que, aliás, ficaria conhecido por seus inúmeros casos de amor malsucedidos. Em um deles, vivido com a cantora Magdalena Willman, Beethoven viu seu pedido de casamento rejeitado sob a justificativa de que ele era mal-educado. Tornou-se, então, um solteirão convicto. "Beethoven casou-se com sua música", sugere o biógrafo Lewis Lockwood.

Na última década de vida, Beethoven ficou completamente surdo. Gastava as noites pelas tavernas, vestia-se como um maltrapilho, arranjava brigas com vizinhos. Os pulmões estavam em frangalhos, o fígado dissolvia-se no álcool, o reumatismo e as dores de cabeça o atormentavam dia e noite, a surdez se fazia acompanhar de moléstias oculares. Mesmo assim, continuava a compor obras-primas. Diz-se que a falta de audição havia libertado o compositor de todas as convenções musicais, possibilitando-lhe criar uma música abstrata e completamente inovadora.

Três anos antes de morrer, Beethoven assistiu a seu derradeiro e maior triunfo: foi efusivamente aplaudido durante a execução de sua Nona sinfonia. O sucesso animou-o a escrever o que seria sua décima sinfonia. Porém, não houve tempo para tanto. Ludwig van Beethoven morreu de cirrose hepática em 26 de março de 1827, após contrair pneumonia, numa tarde de tempestade sobre Viena.

     
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